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Jibata: a personagem de uma história


A cada dia, várias viagens. A cada viagem, várias aventuras. A cada aventura, o surgimento de uma obra. Durante dez meses, esta foi a rotina que marcou a construção do Centro de Referência em Estudos de Florestas Costeiras, projeto desenvolvido pela ADEA - Associação de Defesa e Educação Ambiental, na RPPN Fazenda Palmital – Reserva Volta Velha, em Itapoá.


Toda construção guarda histórias, e no Centro não é diferente: somente quem participa da obra sabe a memória de superação que o material ali empregado carrega. Afinal, como construir mais de 400m² em meio à floresta? Como carregar cerca de 150 toneladas de materiais diversos em um precário caminho de areia em época de chuva? Como atravessar quase 3 mil metros de atoleiros diariamente?

A jibata

​​O que parecia impossível, se concretizou e o protagonista do feito é um antigo e improvisado veículo, montado nas ditas “oficinas de fundo de quintal”, a popular Jibata. Com quatro rodas, uma judiada carroceria de madeira, chassi de Rural Willys ano 1975, tração dupla de Jeep, motor diesel de dois cilindros, esta mistura de jipe com tobata fez da história realidade. Servindo uma equipe de mão cheia - pedreiro, marceneiro, engenheiro, arquiteto e administrador -, o pequeno e improvisado meio de transporte mostrou que é possível concretizar projetos ousados. Para cada Jibata, o grande personagem dessa história material chegar até à obra, foram necessárias inúmeras voltas de seus grandes pneus e muita paciência da dupla que comandava a construção, os irmãos João Francisco Klodzinski e Luiz Antônio Klodzinski.


Tudo começou em um período chuvoso. O território, conhecido pelos irmãos Klodzinski, que há muitos anos vivem na região da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Fazenda Palmital – Reserva Volta Velha, estava mais do que encharcado. “Desde o início sabíamos o desafio dessa construção, mas conhecíamos muito bem a área e contamos, desde o começo, com nossa companheira Jibata”, lembra João Francisco. A companheira, também chamada de guerreira pelos construtores, pertence a uma fazenda da região. Muito utilizada na agricultura em diferentes cidades do interior de Santa Catarina, em Itapoá assumiu nova função. De outubro de 2015 a julho deste ano, percorreu como ninguém, cheia de material, o caminho que ali existia.


O Centro está sendo construído na RPPN, na zona de visitação, espaço em que o Plano de Manejo permite a entrada de visitantes. O lugar, rodeado de tons de verde, já abrigou, há 50 anos, um estaleiro de toras. Hoje, para energia, um pequeno gerador. Para água, um poço artesanal e, para fazer acontecer, a jibata e oito mãos. Com os irmãos, os filhos Pedro Francisco e Gabriel Alexandre formam a equipe de trabalho. “Sempre fomos nós quatro”, afirma João Francisco.



Durante os dez meses, foram cinco enchentes. E a protagonista que fez o sonho acontecer, também deu alguns trabalhos: quebrava com frequência, atolava com frequência e causava frequentes dores de cabeça. “Como ela é muito antiga e carregava bastante peso, era muito difícil conseguir as peças que invariavelmente quebravam. Mas dependíamos dela, pois era a única forma de trazermos os materiais”, conta João Francisco. Sem a Jibata, o percurso também poderia ser feito de canoa pelo rio, ou a pé, onde as botas atolavam até o joelho. Assim, o jeito era esperar, fazer algumas ginásticas para desatolar suas rodas e esquecer os maus pensamentos que por vezes apareciam: “Dava vontade de colocar fogo nesse trem”, contam os irmãos. Conforme Luiz Antonio, em apenas 100 metros uma de suas rodas caiu duas vezes e não tinha o que fazer: era parar, descarregar, arrumar, carregar e voltar à estrada.


João Francisco, Pedro e Luiz: parte da equipe de trabalho

Hoje, tudo está diferente. Com parte dos recursos disponibilizados ao projeto, o caminho recebeu revestimento em pedras e bica corrida, o que possibilita passagem a qualquer veículo com facilidade. A parte de construção civil está em fase final e o Centro deve ser inaugurado no final do ano. Os bons ventos chegaram e os irmãos sorriem ao ver que tudo está dando certo. Para João, é importante salientar o cuidado empregado em toda construção. “O material utilizado é de qualidade e vistoriado pela ADEA. O constante acompanhamento da equipe técnica encarregada do projeto fez com que tudo ficasse assim tão bonito”, afirma.

As paredes erguidas são resultado do trabalho conjunto. O material é de primeira, desde as ferragens até a madeira. A mão de obra especializada: além da experiência dos irmãos construtores, o arquiteto Carlos Henrique Nóbrega, autor do projeto arquitetônico, e o engenheiro João Gabriel Gonzatto Araldi, responsável pela execução da obra e pelos projetos estrutural, hidráulico, elétrico e prevenção de incêndio, formam a equipe.


Além disso, há fiscalização e o acompanhamento permanente da equipe técnica da ADEA: o biólogo Celso Darci Seger, a graduanda em biologia Carolina Guedes, o administrador Werney Serafini, o guia de turismo Yawaritsawa Trumai Waurá e o empresário Lúcio Machado são marcas registradas. Junto a tudo, soma-se a participação da jibata. O personagem ainda percorre a estrada em seus antigos afazeres, mas mesmo quando seu ronco não for mais ouvido na paisagem natural, sua contribuição permanecerá presente na memória de cada material, de cada viagem e de cada etapa concluída.

Conheça um pouco mais do projeto O Centro é parte do projeto “Implantação do Plano de Manejo: Estruturação e Desenvolvimento da RPPN Fazenda Palmital - Reserva Volta Velha”, contemplado pelo Ministério Público Federal no edital sobre a indenização depositada pela empresa Norsul - em virtude do acidente com uma barcaça em 2008, na Baía da Babitonga, em São Francisco do Sul. É um dos nove projetos aprovados para o entorno da Baía da Babitonga.


Atualmente soma 500m² que engloba laboratório, auditório, banheiros, alojamentos e refeitório. Com projetos de educação ambiental e estrutura para receber pesquisadores de todo o mundo, o Centro busca reativar a tradição histórica de pesquisas e cuidados com os últimos remanescentes das florestas de planícies costeiras em Itapoá. O objetivo é estimular convênios com universidades brasileiras e estrangeiras, intensificar a produção acadêmica sobre a fauna e flora da região e promover programas de educação ambiental com as escolas de Itapoá.

A expectativa é que o Centro esteja totalmente pronto no final desse ano. Como faz parte de área de preservação, as visitas são controladas e ainda restritas à equipe técnica, porém, projetos visam aproximar a população desse grande sonho.

Contrapartidas do projeto Para o projeto, os proprietários da RPPN Fazenda Palmital – Reserva Volta Velha, juntamente com a ADEA – Associação de Defesa e Educação Ambiental, se comprometeram a oferecer as seguintes contrapartidas: Durante dez anos será disponibilizada gratuitamente hospedagem aos alunos das ultimas séries das escolas públicas de Itapoá para participarem de programas de educação ambiental no Centro, contando apenas com o apoio da merenda escolar do Municipio e de recursos adicionais de outras fontes empresariais para contratação da equipe de trabalho. Com este compromisso, a maioria das crianças e jovens do municipio, ao longo do período, terá a oportunidade de conhecer e valorizar os ambientes preservados da Floresta Atlântica, trabalhando em sinergia com o currículo escolar. Serão três eventos anuais, totalizando 30 edições de 2015 a 2025.


Como é praxe histórica, toda e qualquer informação proveniente dos estudos e pesquisas realizadas na RPPN Fazenda Palmital – Reserva Volta Velha, serão disponibilizadas publicamente após concluídas, incrementando o acervo já existente da base de dados para o incentivo à criação de novas áreas de conservação das planícies costeiras.


Texto publicado pela Associação de Defesa e Educação Ambiental (ADEA)

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